Legislativo e Queimadas cobram reparos de danos causados por eólica
“A nossa comunidade hoje tem enfrentado grandes dificuldades com relação ao acesso, nossas estradas estão muito acabadas. A nossa única fonte de água natural chegou a um ponto em que não presta mais para ser utilizada, ela chega a ser muito escura. Também tivemos rachaduras nas casas, boa parte das cisternas foram afetadas e percebemos que a serra não tem mais aquela beleza que tinha há tempos atrás”, denunciou a quilombola Jessyka Beatriz.
Ela foi uma das moradoras da comunidade Quilombola Queimadas que externou as dificuldades, usou a voz para que todos pudessem ouvir o que eles realmente precisam na Audiência Pública realizada pela Câmara de Currais Novos que discutiu os impactos socioambientais do parque eólico na comunidade na terça (08). A Audiência, que oportunizou o diálogo entre a comunidade e a empresa 2W que opera o parque eólico Anemus, foi proposta pelos vereadores Edmilson Sousa, João Gustavo e pela vereadora Rayssa Batista.
De acordo com a vereadora Rayssa Batista, o pedido principal da comunidade é que na contrapartida, a W2 construa a sede da Associação de moradores e uma cozinha comunitária para que as mulheres possam fortalecer os empreendimentos e assim ter mais autonomia econômica. Para ela, um dos ganhos principais da Audiência foi começar um debate aprofundado junto à sociedade para abrir os olhos sobre os impactos causados pelas empresas e debater sobre essa temática.
O vereador João Gustavo afirmou que os encaminhamentos serão transformados em documento para ser entregue às autoridades e à empresa. Para ele, a abertura de um diálogo entre a empresa e a comunidade foi um dos objetivos alcançados. “Como Câmara, o que a gente pode trabalhar é a revisão da legislação ambiental do município para que a gente possa ter uma melhor efetividade na fiscalização não só desse empreendimento, mas de empreendimentos futuros”, afirmou.
Um dos propositores da Audiência, vereador Edmilson Sousa, relembrou a luta e atuação, junto ao Poder Executivo, pelo reconhecimento da comunidade Queimadas como remanescente de quilombo pela Fundação Cultural Palmares. A comunidade negra, localizada na região do Totoró, existe há quase 270 anos. “Sempre estive e estarei à disposição de todos vocês em busca de uma comunidade melhor, de uma Currais Novos melhor”, disse.
Para a presidenta da Comissão de Meio Ambiente da Assembleia Legislativa, deputada estadual Divaneide Basílio, é preciso que haja uma mesa de negociação permanente sobre sobre os impactos socioambientais gerados pela instalação e operação das eólicas. A assistente social Gabriela Moura, representante da empresa 2W, que opera o parque eólico, garantiu que vai levar ao conselho da empresa as informações apresentadas pela comunidade e providenciou ida à comunidade para realizar uma reunião com todos os interessados.
Por causa das dificuldades enfrentadas pelos moradores da comunidade Queimadas, a presidenta da Associação, Maria Da Guia, fez um desabafo preocupado com o futuro das novas gerações. “Como vai ser futuramente se hoje a gente já sofre? A gente não tem mais a produção que tinha da plantação. Temo que futuramente a gente fique sem água. A nossa água era limpa e hoje ela não é mais. O rio da gente não tem mais aquela produção que a gente tinha antigamente”, lamentou.
Estiveram presentes os vereadores Cleyber Trajano, Daniel Bezerra, Sebastião Cabral, Iranilson Medeiros, Mattson Ranier, Jorian Santos, Ezequiel Pereira, Lucieldo Silva; a diretora executiva do Geoparque Seridó, Janaína Medeiros; representante do Seridó Vivo, Rani Souza; moradores das comunidades quilombolas de Pedro Avelino e Afonso Bezerra; antropólogo do Idema, Elói Magalhães; da Antropos Consultoria, Geraldo Barbosa; do grupo Mutirão, Luciano Ribeiro; coordenadora estadual da Política de promoção da igualdade racial, Giselma Omilê; professora da Felcs, Isabele Pinheiro; do Ministério Público a promotora Ana Jovina e Jane Suênia; a vice-prefeita Ana Albuquerque e o coordenador de meio ambiente Fabiano Pacômio.
Texto e fotos: Priscila Adélia Pontes
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